Quarta-feira de Cinzas. “Acabou nosso Carnaval, ninguém ouve cantar canções...”
É sempre assim. Fim de festa: hora de guardar a fantasia; voltar ao batente; assumir a dura realidade (não sei porque dizemos isto da realidade, mas o fato é que virou apostasia imaginá-la com outra “consistência”).
Nos “barracões” (indicação meio fajuta, né?! Pois segundo Joãozinho Trinta: quem gosta de pobreza é intelectual. Talvez seja melhor falar-se em “quadra”, “sede” ou qualquer outra denominação menos chinfrim) vive-se o nervosismo da espera pelos resultados dos desfiles. Nos hospitais faz-se um outro balanço – sem samba –, uma triste contabilidade de números e dos tipos de atendimentos, em sua maioria resultado da violência que vem marcando um período que deveria ser apenas de alegria. No coração, a certeza de que valeu à pena, ou não, os afagos do momo. Nas finanças,... é melhor esquecer este pedaço. Assim, em cada lugar um “balanço”. Será isto a realidade – a tal da dura...?
Parece que depois da divulgação dos resultados da Sapucaí o ano, finalmente, começa. A indústria e o comércio organizam-se para a Páscoa e para o ainda distante Dia das Mães. Os políticos preparam-se para deixar cargos do primeiro e do segundo escalão – em abril – e preparar suas campanhas eleitorais. Nas escolas – as educacionais – o volume de conteúdo ministrado cresce. Enfim, começou o ano.
Para o horóscopo chinês o ano costuma começar em fevereiro; em 2010, no dia 14 de fevereiro. Para este modelo advinhatório estamos vivendo o Ano do Tigre. Há quem diga que sendo o Tigre indicativo de um temperamento forte teremos um ano de grandes emoções; que o digam José Roberto Arruda e o Presidente Lula.
Arruda vive um período de “inferno astral” com as denuncias do mensalão do DEM e sua prisão determinada pelo STJ. Por outro lado, a negativa de concessão de habeas corpus pelo Ministro Marco Aurélio de Mello e a possibilidade de vir a ter o seu mandato cassado pela Câmara Distrital parecem anunciar um clima de guilhotina para o modo “rouba, mas faz” de fazer política no Brasil; o que só poderá ser aferido após a apuração das urnas em outubro.
Após o susto da alta de pressão arterial de Lula, um novo factóide é o anúncio da candidatura de Ciro Gomes à sucessão presidencial. Há que acredite que esse tipo de comportamento político tem mais cheiro de barganha do que de postura ideológica. Para muitos analistas a sucessão presidencial tem grande chance de assumir um caráter plebiscitário.
Na taba cearense, o Governador Cid Gomes que exerceu um mandato sem oposição ainda não vislumbra um concorrente de peso que ameace a sua reeleição. Acumulando a governança e a presidência do PSB, Cid imprime à política local a reedição dos modelos tassista e cirista de centralização no governar, onde sequer a academia demonstrou disposição para oferecer critica a esta forma taylorista de administrar.
Se o Tigre precisa de uma audiência inteligente, que lhe estimule o perfeccionismo e a exibição de toda a sua popularidade, a possibilidade de continuísmos na política local e nacional pode acabar por fazer o povo apenas ronronar.
Diante desse ano felino parece que “... mais que nunca é preciso cantar...”, da Sapucaí à cabine de votação. Quanto a Jundiaí, foi apenas cutucar um velho desafeto.