quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Política versus realidade

No início de 2009 vi publicada uma matéria que fazia alusão acerca da difícil volta à realidade para os vereadores que não haviam sido reeleitos. Quis escrever sobre o assunto, mas, o tempo – o eterno vilão – não me permitia fazê-lo.
Tempo é questão de opção – dizia um livrinho do meu tempo de católico praticante. Sem entrar no mérito das minhas mudanças espirituais, tenho a dizer que não parei de pensar naquela frase – era como se fosse devedor de uma manifestação a respeito daquilo.
Premido pela faxineira – que teima em tentar por no lixo aquele recorte amarelado – e pelos acontecimentos políticos recentes (castelos, atos secretos, acquários, PAC e os primeiros arranca-rabo para as eleições de 2010), capitulei.
Neste momento – diante da nova máquina, que insiste em expor o meu analfabetismo tecnológico –, me dou conta de outro problema: o assunto é amplo demais para comportar no espaço de um artigo de jornal. Pensei em abordar o tema num artigo acadêmico; publicá-lo no meu blog (afinal, apesar da minha relação limitada com a informática, não dou o braço torcer e vou remando neste mar virtual); dividir a exposição em vários pequenos artigos. Resolvi fazer tudo isso (tenho dificuldade em fazer opções drásticas, mas isso é tema para outro artigo).
Discordei do título encontrado pelo jornalista (a tal da volta à realidade), mas em parte ele estava certo. Ao que parece, a política constitui-se numa “realidade” à parte. O detalhe é que não se está falando em 3D, realidade virtual ou ficção científica; simplesmente, para muitos políticos, a chamada realidade é que se constitui numa ficção: nós é que estamos errados com o nosso mundinho limitado.
Creio que esses políticos pensam assim: se ao poeta tudo é lícito, por que nos impor limites. Claro que eles estão certos, nós é que somos “manés” (malandro é malandro). Como já dizia Chico Buarque (numa leve transgressão deste escriba ao texto original, mas sem acrescentar nenhuma palavra): agora já é não é normal... malandro com mandato federal... que nunca se dá mal.
Semana passada, em Brasília, ouvi de um motorista o seguinte relato indignado: – Frequentemente, ouço pessoas dizendo que Brasília é um antro de ladrões. Esse povo esquece-se de duas coisas: Brasília não se resume aos cerca de oitocentos parlamentares que atuam aqui; e que a maioria desses político vem dos seus estados e são eleitos por eles”. Adorei a aula do cidadão.
Parece que a “realidade” dos políticos é diferente da vivida pelos demais mortais porque nos esquecemos que o nosso voto é o seu passaporte para essa “ilha da fantasia”.