domingo, 5 de julho de 2009

Tempo vale...

Uma das máximas capitalistas mais difundida é aquela que afirma: tempo é dinheiro. Traduzida para os mais variados idiomas a frase tem funcionado como um verdadeiro impulsionador da produção, da economia de movimentos (vide taylorismo) e da falta de outro sentido para vida além de correr atrás do dinheiro.

Quem nunca ouviu o repetiu – quase como um mantra – o tal do time is money? Parece até a frase se aplica a tudo, e não apenas à economia. Assim, as mais diversas ações humanas – dentro e fora do mundo do trabalho – parecem ser orientadas pela busca de resultados satisfatórios no menor espaço de tempo.

O interessante dessa “contabilização” financista do tempo é a sua aplicação quase que exclusivamente em favor daqueles que controlam o tempo alheio. Quando ouvimos uma empregada doméstica dizer aos “patrões”: – Vocês podem dormir menos para que eu possa arrumar o quarto mais cedo? Coisa assim, geralmente, é interpretada como insolência.

Por outro lado, virou lugar comum reclamar-se da morosidade do Judiciário (ou das obras da prefeitura), o que é sempre alvo de justificativas que não convencem aos cidadãos. Chego quase a pensar que a única maneira de impulsionar os serviços judiciários é dizer ao povo: – Deixem clamar por Justiça com seus problemas insignificantes. E olha que muitas demandas sequer chegam ao Judiciário.

De modo geral (embora sempre seja perigoso generalizar), o que se nota em nossa “aldeia global” pós-pós é que certos prestadores de serviços decidiram não se importar com o tempo dos seus clientes. Isso vale, principalmente, para operadoras de telefonia, planos de saúde e administradoras de cartões de crédito. A nova invenção dos call centers é uma frase, no mínimo, exótica: ­– Um momento mais longo, por favor. Ora, se o “um momento, por favor” já durava uma eternidade, imagino as teias de aranha crescendo nas nossas orelhas.

Um dia desses, parado num semáforo (coisa para mortais – o que significa dizer que não vale para as viaturas policiais; em qualquer circunstância) deparei-me com a seguinte publicidade de certo plano de saúde num out bus: “Em caso de suspeita de dengue não vá para os hospitais. Telefone para o seu médico”. Seria hilariante, caso não fosse desonesto para com a nossa inteligência. Quantos dos médicos você conhece estão 24h a sua disposição para consultá-lo por telefone (ai que saudade dos bips)? Quantas vezes você consegue marcar um atendimento médico no mesmo dia?

Às vezes digo às atendentes em consultórios médicos (ao confirmar digitalmente a consulta ou exame, após horas de espera): ­– Se a maioria dos médicos tivessem que viver um dia (apenas um) como advogados, talvez passassem a respeitar prazos. É claro que a minha indignação não implicará num pedido de desculpas pelo atraso no atendimento ou sequer explicação que indique respeito para com o cliente.

Vivemos a tirania do: o seu tempo não vale nada. Algo como: espere ou espere. Mas isso pode servir-nos de motivação autocrítica: – Como estamos tratando o tempo para os outros (sim, porque o tempo não é de ninguém, é simplesmente apropriado por nós no dia-a-dia) nas minhas relações cotidianas? Isso vale para tudo (chegar na hora marcada em qualquer compromisso; não “alugar” o ouvido de alguém com algo que só interessa ao falante; entregar na data marcada algum serviço etc.). Depois de responder a isso, como no jogo de amarelinha, veja onde você ficou.