Há alguns anos um amigo perguntou-me – com aquele tom de semi-afirmação de quem precisa do apoio do outro para confirmar uma tese – se com o passar dos anos a gente ficava mais paciente. Acredito que ele estava buscando uma compensação para uma calvície avassaladora, pois paciência não é, necessariamente, fruto da idade (às vezes fica-se até mais impaciente).
Creio que deve existir alguma vantagem em envelhecer, e não falo de passe livre em transporte coletivo, da meia entrada nos cinemas ou de entrar – lépido e cheio de legitimidade – na frente dos mais jovens na fila do banco ou do supermercado (para desespero de alguns). Sim, porque perder cabelos, ter dificuldades em enfiar uma linha numa agulha, ver a gordura indesejavelmente instalar-se onde no passado rodopiava um bambolê e esquecer o nome da primeira namorada (ou coisa pior) exige alguma compensação.
Ainda estou procurando a tal vantagem de envelhecer, por isso, quem descobrir, por favor faça o favor se socializar. Entretanto, pior do que começar a dizer e ouvir dos contemporâneos de molecagem coisas como: “no meu tempo”, “quando eu era moça” – já disse ou ouviu isso? –, “como dizia minha finada mãe”, é pensar unicamente com as referências do passado. Creio que vale ter saudade de “tempos idos”, mas isso é diferente de viver no passado.
Affonso Romano de Sant´Anna diz-nos que “a gente tem a leviandade de imaginar que os velhos nasceram velhos, que estão ali apenas para assistir ao nosso crescimento”. É bem verdade, mas ouso acrescentar àquela crônica que, paradoxalmente, parece que pela vida vamos nos esquecendo das fases já vividas. Talvez por conta da velocidade que vem sendo impressa à vida urbana – sem tempo para a contemplação, para jogar conversa fora num fim de tarde, ler despretensiosamente e até para um flerte –, estejamos esquecendo depressa de como era ser criança ou adolescente.
Há uma diferença simbólica entre os termos velho e antigo. Por isso, meu fuscão preto ainda está longe de ser considerado antigo (enquanto isso não acontece, vou ouvindo a canção homônima). Porém, ser velho não é privilégio dos idosos. Há jovens que sentem, pensam e agem como velhos; eles envelheceram sem amadurecer.
Defender idéias cerceadoras ou limitadoras de direitos humanos não é privilégio de quem viveu ardorosamente o nazismo, o fascismo ou as ditaduras latino-americanas do Século XX. Infelizmente, elas também podem brotar de mentes velhas sobre corpos jovens. A proposição de um toque recolher para crianças e adolescentes é uma dessas idéias higienizadoras que reforçam o estigma e alienam com falsas soluções. Quem pensa assim despreza o princípio da proteção integral – que nos faz, a todos, responsáveis pelo desenvolvimento a todas as crianças e adolescentes.
Não pode existir liberdade onde há toque de recolher para a infância em substituição ao acolhimento. Nossa missão, parodiando Salvador Allende – enquanto sociedade – é sermos homens do Século XXI, pais de uma nação justa para com a infância e a adolescência de hoje e do futuro.