Como outros setores da iniciativa humana a cultura não escapou da organização mercadológica. Seguindo um olhar marxista pode-se até dizer que sobre ela também repousa um fetiche.
As manifestações culturais, mesmo as tradicionais, hoje são absorvidas pelo que Morin chama de indústria cultural. Assim, com apoio público e privado (quase sempre mediante a concorrência em editais) têm sido difundidas iniciativas artísticas, literárias e acadêmicas. São livros, festivais, seminários, ciclos de debates que não teriam condição de ocorrer sem tais aportes financeiros.
Nós intelectuais por vezes somos “chatos” (gostamos de reclamar e questionar), somos vaidosos (até afeitos a um certo “incensar” de egos) e temerosos de elogiar. Sim, porque isso pode ser confundido com vassalagem.
Não acho que tenhamos de abdicar da postura questionadora (afinal sem isso não se faz saber elaborado), nem tampouco renunciar a vaidade (mas sem excessos), porém, atitude crítica não implica necessariamente em falta de reconhecimento.
Nas últimas duas décadas, no Ceará, e nos últimos sete anos, em nível nacional, a cultura tem deixado o lugar de “patinho feio” dos orçamentos públicos – claro que ainda há mais demandas do que apoios. Equipamentos, serviços e eventos têm dado um novo tom à política cultural. Projetos tomaram lugar dos apadrinhamentos de outrora e com isso tem sido possível estimular valores e ações voltadas para a disseminação de saberes, antes desprestigiadas.
Recentemente realizamos um grande evento em Fortaleza. Uma atividade acadêmica e artística que uniu as duas maiores universidades públicas do nosso estado – a UECE e a UFC. A VI Semana de Humanidades – cujo slogan era “Memória e devir” – que se realizou no período de 27 a 30 de abril de 2009, só foi possível devido aos diversos apoios recebidos. No campo federal o BNB foi o grande parceiro dessa iniciativa, na órbita estadual coube a Secretaria de Cultura e ao Gabinete do Vice-Governador as contribuições mais significativas, e na alçada do município foram bem vindos os apoios emprestados pela Regional IV e pela Guarda Municipal.
Viram; não doeu. É possível reconhecer o mérito sem pajelança e sem abdicar de uma postura crítica conseqüente. Com isso não ficamos impedidos de analisar com isenção a caótica situação do trânsito em Fortaleza, a intenção do Governador de criar o Acquario Ceará e a proposta de fim do regime de dedicação exclusiva (DE) que vem sendo proposto pelo governo Lula.