Em recente visita ao Campus do Itaperi da Universidade Estadual do Ceará, o Governador Cid Gomes foi abordado por um conjunto expressivo de estudantes da instituição que o pressionou para ter um encontro com seu governante. Cid assumiu a postura de um estadista e recebeu ao movimento estudantil da UECE e representantes do segmento docente da Universidade para um debate no auditório central daquele campus.
Dentre asa demandas apresentadas pelos estudantes estava a imperiosa necessidade de contínua ampliação e atualização do acervo da Biblioteca Central da UECE; isso deve ter impactado ao Governador, posto que é ciente de que já não se faz ciência e tecnologia sem alguns requisitos mínimos (gabinetes para professores/pesquisadores, laboratórios bem equipados, bibliotecas de qualidade e acesso irrestrito a instrumentos de comunicação – inclusive os virtuais).
Tenho acompanhado a discussão acerca da construção do que vem sendo chamado de Acquário do Ceará. Dizem as notícias e artigos publicados na mídia que este empreendimento dotará o estado do maior oceanário da América Latina. Dentre outras informações diz-se que o empreendimento está orçado em R$ 250.000.000,00. Além disso, fala-se do incremento da indústria do turismo, na revitalização da Praia de Iracema, da ocupação de uma área ora inutilizada, na geração de emprego e renda.
Há algumas perguntas que ainda não foram verbalizadas sobre esse assunto, tais como: 1. Por que tem que ser “o maior”?; 2. Por que o poder público precisa investir na construção desse equipamento se ele caracteriza-se (pelo menos até o momento) como uma atração que beneficiará a iniciativa privada?; 3. O que falta à Praia de Iracema é um oceanário?; 4. Por que não construir tal equipamento na Av. Leste-Oeste?; 5. Em que esse investimento contribuirá para a educação, a ciência e a tecnologia?; 6. Qual a posição das universidades instaladas em Fortaleza sobre o assunto?
Aracaju inaugurou há uns dois anos um oceanário belíssimo. O equipamento foi construído e é administrado pela Petrobras, estando localizado numa área de expansão da cidade. Creio que – voltando ao Acquário do Ceará – cabe ao poder público criar vias de acesso e demais meios infra-estruturais que possibilitem a instalação de equipamentos que favoreçam a socialidade; não realizar o papel da iniciativa privada. Considero que a Praia de Iracema carece de investimentos relacionados à segurança pública (iluminação, pavimentação, policiamento etc.) e incentivo fiscais e de crédito aos pequenos empreendedores (os grandes já têm fontes suficientes e generosas) para voltar a sua pujança das décadas passadas. A Av. Leste-Oeste foi um cartão postal nos anos 1970, mas há muito encontra-se em abandono (sem infra-estrutura, investimento em requalificação urbana e na auto-estima de seus habitantes) – a oportunidade de instalar ali o Pavilhão de Feiras sequer foi devidamente avaliada; senão com a recente proposição de desapropriação de um hotel para dar lugar a este equipamento. Mais uma vez a educação é considerada como supérflua diante dos investimentos públicos, sequer se tendo atraído a academia para tal discussão.
Vimos que a cifra de R$ 250.000.000,00 não parece preocupar a classe política deste estado ao ser pensada a criação do Acquário do Ceará. Enquanto isso, com apenas R$ 1.000.000,00 pode ser construído um núcleo básico de pesquisa em humanidades (com 10 laboratórios e atendendo a 4 programas de mestrado, 4 cursos de especialização e dezenas de pesquisadores). Com menos do que isso (algo em torno de R$ 850.000,00) pode ser construído o Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) necessário ao funcionamento do Curso de Psicologia da UECE (que dentre os 40 alunos que ingressaram em 2008, 29 já apresentaram trabalhos em eventos acadêmicos; que está prestes a criar um espaço terapêutico piloto para atender a grupos de estudantes oriundos das escolas públicas do entorno do Campus Fátima (situado no bairro do mesmo nome em Fortaleza); que se constitui na única opção de ensino público de Psicologia em relação à UFC – no nosso Estado.
A academia não é um grande viveiro de gente e as Humanidades não podem entrar pela porta dos fundos dos debates públicos; sob pena de irmos todos para o Acquario.