sexta-feira, 8 de maio de 2009

Posteridade

Como diria Vinícius de Morais: “A vida é muito estranha”. Talvez por isso o “poetinha” tenha chamado a atenção para o fato de “a gente mal nasce e começa a morrer”. Sim, imperceptivelmente nascemos fadados a ter – além do começo –, meio e fim.
No prólogo temos o desejo de brincar, construir fantasias (se possível viveríamos ali) e sermos cuidados. Nessa fase, acreditamos em tudo o que os adultos nos dizem; sim, porque eles sabem de tudo.
Daí a pouco começa uma nova etapa de descobertas, a adolescência; seguida de perto da juventude e da maturidade. Hoje há quem diga que vivemos uma sociedade adultocentrica, onde tudo é determinado pelo modo de ser e de viver dos adultos. Cabe perguntar: algum dia isso foi diferente? Não é dever dos adultos ensinar aos mais jovens o seu modo de vida? Não é isso que chamamos de socialização?
Até os anos 1960 – com raras e episódicas exceções – as sociedades sempre dispensaram pouca atenção à voz dos mais jovens. Creio que isso pode se dever a uma espécie de vingança; um “desconta lá”. Lembram da brincadeira? Alguns a chamam de “carimba”, mas o princípio é o mesmo. Na brincadeira infantil, alguém é escolhido (ou sorteado) para correr atrás de alguns amigos, com a missão de acertar um deles com uma bola (sempre lançada com a mão). Uma vez atingido pela bola o amigo procura atingir a outro (por isso, “desconta lá”).
Nem todos têm boas lembranças da meninice e alguns resolvem que isso deve ser uma baliza para educar os filhos: uma espécie de “desconta lá”. Assim, sem ouvir o que os mais moços têm a dizer, os adultos reproduzem o modo de ser da socialização a que estão vinculados, pela ameaça, pela pressão e pelo castigo. O oposto disso também não me parece o ideal; a falta de diálogo, a indiferença e a ausência de limites.
Acho que poucas vezes paramos para pensar no seguinte: Como quero ser lembrado, daqui a alguns anos? É equivocado pensarmos que apenas os heróis e os mitos passam à posteridade. Qualquer um de nós será lembrado algum dia; a questão é: como nos faremos lembrar.
Pensando no meu neto tentei me colocar no lugar dele. Assim como ele, também sou primogênito e o primeiro neto da parentalha dos meus pais. Fui cercado pelo modo de ser dos adultos e estes foram sendo – um a um – armazenado nas minhas lembranças. Tenho saudade (o nome que damos às lembranças que gostaríamos de reviver) de alguns momentos da minha vida, e, frequentemente isso me faz lembrar de alguém. Desse modo, alguém alcançou na minha vida a posteridade.
Como seremos lembrados no amanhã?